Rede de fast fashion e shopping no Rio de Janeiro (RJ) investem em usinas fotovoltaicas para produção de energia elétrica, opção que está sendo vista com bons olhos pelo varejo. E as vantagens vão muito além da economia na conta de luz. O apelo sustentável traz retornos importantes para a marca – e ajuda até na hora de conseguir um empréstimo. “O investimento será recuperado pelo desconto que temos no custo em relação à tarifa tradicional, mas também pela atração de pessoas que se identificam com nossa ideologia”, diz o vice-presidente da Multiplan, Vander Giordano. Em parceria com a empresa de energia portuguesa EDP, o grupo de shoppings investiu em uma área equivalente a 24 campos de futebol para gerar energia para o Shopping Village Mall, no Rio.
Desde fevereiro, 4 mil painéis solares instalados numa fazenda em Vassouras, no interior do Rio de Janeiro, geram energia para quatro lojas da Renner, na capital fluminense. O projeto, erguido a 120 quilômetros do local de consumo, tem reduzido em 13% a conta de luz das unidades e ajudado a varejista a alcançar a meta de chegar a 75% da energia consumida vinda de fontes renováveis. Até o fim do ano, outras duas usinas vão abastecer as lojas do Distrito Federal e do Rio Grande do Sul.
A iniciativa da Renner faz parte de um movimento de popularização da energia solar no Brasil. Isso basicamente teve início em 2012, com os consumidores residenciais, mas ganhou força nos últimos três anos, sobretudo, entre as empresas. Igrejas, redes de varejo, shopping centers e até hidrelétricas têm se rendido ao potencial solar do País.
De 2016 para cá, o número de sistemas de geração de energia solar (que envolve a instalação de painéis no telhado ou em outras áreas) no Brasil saltou de 8,7 mil para 111 mil, um avanço de 1.181%. Em termos de geração de energia, a potência instalada passou de 91,84 MW (megawatt) para 1,34 mil MW, um crescimento de 1.359%. A capacidade é equivalente a quase uma Hidrelétrica de Porto Primavera, da Cesp.
Como começou
O apelo dos painéis solares começou com as mudanças nas regras do setor de energia, em 2012, que deram um pouco mais de liberdade ao consumidor para escolher de onde vem a sua eletricidade. Além disso, permitiram ao microgerador jogar a energia não consumida no sistema elétrico e obter um crédito para abater na conta de luz.
Com o forte crescimento das tarifas de energia elétrica nos últimos anos (de 2013 para cá, a tarifa residencial subiu quase 90%, mais que o dobro da inflação no período), os clientes residenciais foram os primeiros a descobrir as vantagens da microgeração ou minigeração de energia – no jargão do setor, a geração distribuída.
Onde chegou
Mas, nos últimos três anos, foram as empresas (varejo, indústria e serviços) que deram impulso a esse segmento. Hoje, elas são responsáveis por mais da metade da capacidade instalada de “miniusinas” solares no País, apesar de representar apenas 20% do número de sistemas, segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).
Do total de 3,6 mil MW de energia solar gerados no Brasil, 62% vêm de grandes parques, que vendem energia para o mercado livre e para o mercado cativo, das distribuidoras. O restante vem da geração distribuída.
O investimento da Renner só foi possível porque, nos últimos anos, os equipamentos ficaram mais baratos. Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), entre 2014 e 2019, houve queda de 43% no preço médio dos painéis solares, o que provocou um recuo no tempo de retorno do capital aplicado, de 7 anos, em 2015, para 4,5 anos, agora.
O mesmo cálculo incentiva a Multiplan a investir na energia limpa. O grupo investiu na construção de uma fazenda solar em Itacarambi (MG), a mais de mil km de distância do shopping Village Mall. A área tem 25.440 painéis fotovoltaicos e reduziu em 20% o gasto da empresa com energia. No ano, isso significa uma economia de R$ 5 milhões, diz Vander Giordano.
Ele conta que há outras iniciativas da empresa na área solar. O Park Shopping Canoas, no Rio Grande do Sul, tem placas instaladas no teto que geram uma economia de R$ 2 milhões por ano. O Shopping Jacarepaguá, no Rio, ainda em construção, terá placas no telhado e deve reduzir a conta em 20% em relação a empreendimentos semelhantes.
Quanto custa
Hoje para instalar um sistema de cerca de 300 kWp (quilowatt-pico, quanto o painel gera quando o sol está mais forte), uma empresa vai gastar cerca de R$ 1,1 milhão, segundo o Portal Solar, site que inclui toda a cadeia de geração de energia solar. Mas, em grandes companhias, esse valor é proporcionalmente maior.
Com informações do Estadão.